29 de mai. de 2007

Bibliotecas, museus e arquivos: fontes inesgotáveis de registro da diversidade humana

Por Lídia Cavalcante

Tenho acompanhado e pesquisado sobre as discussões relativas à geração de um patrimônio digital nacional e internacional, por parte de instituições como universidades, bibliotecas, museus e arquivos. Não se trata apenas de mais um modismo do mundo tecnológico contemporâneo. É uma realidade mundial, podemos dizer. Mas, o que significa dizer “uma realidade mundial”? É possível gerar um patrimônio nacional em meio digital? Como ficam as tradicionais bibliotecas, museus e arquivos em meio a essas discussões?
O percurso iniciado pelas discussões e estudos sobre memória e patrimônio digital está apenas começando. Há um logo caminho a percorrer e a explorar. Não se trata de discutir a superioridade de nações ou economias dominantes tecnologicamente, mas de aprofundar o discurso sobre preservação, salvaguarda e acesso. Este tema representa um rico campo de pesquisa a explorar, sob diferentes aspectos: político, histórico, econômico, cultural, educativo ou tecnológico, por exemplo.
Diante de uma tal diversidade de estudos é fundamental destacar a importância do debate político, que envolve questões relativas às práticas e ações voltadas para a emergência da criação de coleções patrimoniais em meio digital. As instituições culturais de memória, de modo geral, se vêem envolvidas em um processo de mobilização global que conduz a diferentes contextos. No campo cultural e tecnológico são estimuladas a desenvolver projetos e programas de digitalização de suas coleções. Entretanto, no plano financeiro, se vêem às voltas com a falta de recursos e de políticas de investimentos que tornem viáveis tais projetos. Assim, confrontam um duplo desafio: gerir um patrimônio tradicional e um patrimônio digital em meio à falta de recursos financeiros, humanos e tecnológicos.
Nesse quesito (ou em mais um quesito), as desvantagens econômica e tecnológica das nações em desenvolvimento serão facilmente perceptíveis. Fato que se pode observar pelo índice de crescimento das coleções patrimoniais digitalizadas em países como a França, os Estados Unidos, o Canadá e a Inglaterra. Não é difícil compreender a concentração do crescimento das bibliotecas digitais na Europa e na América do Norte, bem como o uso da Internet, que permite fluxos de informação cada vez mais dinâmicos e modernos.
Bibliotecas, museus e arquivos, historicamente, são considerados setores tradicionais, cuja inovação não parecer ser “a ordem do dia” das áreas políticas e econômicas no Brasil. Paradoxalmente, o setor informacional tem sido o mais sensível ao desenvolvimento tecnológico, necessitando de inovações e investimentos constantes. Assim, uma política de desenvolvimento de coleções digitais, para assumir de modo competente o papel de difusão cultural e transmissão do saber, necessita de processos de evolução tecnológica constantes e de esforços governamentais e institucionais para gerar projetos de interesse comum no que tange à preservação, salvaguarda, acesso e democratização da memória e do patrimônio coletivo. Fato que requer esforços de cooperação e harmonização de objetivos, para favorecer a troca de experiências, a força política e a obtenção de recursos. Não consigo imaginar um universo de cultura digital sem democratizar saberes e acesso à informação e, menos ainda, sem a presença de bibliotecas, museus e arquivos, fontes inesgotáveis de registro da diversidade humana.

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