15 de mai. de 2007

Tecnologia, cultura e diversidade

Por Sebastião Squirra

Em princípio contextualizante, constato que se entende pouco as características, pertinências e aplicações dos infindáveis instrumentos tecnológicos que a invenção humana coloca à disposição da sociedade. Por isso, pode-se afirmar que em determinadas partes do globo (sobretudo nos países com pouca cultura tecnológica, normalmente os pobres) os instrumentos e equipamentos oriundos das tecnologias – sobretudo as avançadas, onde se sobressaem as digitais – são manuseados aleatoriamente, evidenciando uso “cego” (sem formas de conhecimento aprofundado e contextualizado), com alta aplicação da intuição e com a experimentação ousada através de impulsos livres. É o princípio do “aperta para ver o que acontece”.

Por outro lado, é possível perceber que os aspectos distintos das manifestações culturais vêm recebendo historicamente muito mais atenção, sendo melhor entendidos, aplicados e explorados.

A história e a filosofia da tecnologia indicam que a cultura só se espraiou e alcançou volumes expressivos com a sedutora e incessante produção de tecnologias de comunicação, sejam elas, a impressão, a reprodução imagética através das técnicas fotográficas e de envio à distância de imagens e sons, a tele-transmissão de produtos audiovisuais completos pelo rádio e televisão, com as facilidades dos satélites, acrescidos do acesso e troca em tempo real e “nas pontas dos dedos”, estes possibilitados pelas redes de comunicação, sobressaindo-se a internet. Assim, constata-se que, com a pluralidade tecnológica disponível nos dias atuais (que permite a onipresença da imagem e do som em praticamente todos os cantos de alcance dos sentidos humanos), um determinado cidadão seja cotidianamente submetido a muito mais possibilidades de exposição à cultura, do que acontecia com seus pares décadas atrás. E isto é uma forma de diversidade, pelo menos no momento inicial de recepção da informação, ocasião em que as mensagens trazem em seu conteúdo a cultura social. Resta saber se, com este processo, se multiplica (outro entendimento de diversificar) a assimilação e compreensão dos pressupostos da cultura humana.
Primeiramente, é interessante lembrar que não existem formas “milagrosas” na transmissão do conhecimento, partindo do princípio único de que isto se dará a partir da existência dos recursos tecnológicos. Quer dizer, políticas sociais devem já estar presentes, como por exemplo: é necessário alfabetizar massivamente os contingentes sociais excluídos para que, de forma clara, estes consigam entender os códigos que cimentam a cultura e sua transmissão (que, neste cenário, não mais se dá oralmente, como no passado). Em seguida, é importante que se faça a “alfabetização tecnológica”, pois o mundo com os aplicativos da modernidade são complexos (as redes, os bancos de dados etc); requerem abstração conceitual (afinal, como entender a virtualidade?); dedicação para sua compreensão e exploração racional (quantos usam os manuais?) mas, sobretudo, tempo livre (na jornada de muitas horas, poucos têm disposição para o contato com coisas fora do cotidiano) e alguma disponibilidade financeira (comprar as máquinas, pagar os sistemas etc).
Mas é possível reconhecer que, com todos estes predicados elencados, quando acessíveis, os produtos tecnológicos realizam ação de melhora e incremento da percepção humana a partir do contato com a cultura e a manifestação inédita e de aplicação “complementar” ao dia-a-dia. Assim, concluo que os seres humanos, de uma forma imediata ou temporalmente sutil, tornam-se mais “completos” a partir da exposição ao conhecimento viabilizado pelas tecnologias, que o contrário. Ainda entendo que, a essência da ação da tecnologia é sua atuação como suporte das manifestações culturais, restando a estas, a excelência na abordagem dos conteúdos e suas contextualizações epistemológicas.

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