4 de jun. de 2007

A diversidade cultural depende de uma infra-estrutura de telecomunicações livre

Por Sergio Amadeu

Fernando Trevisan, entusiasta e integrante do barcamp, deu uma grande contribuição ao nosso debate ao questionar o documento-base, versão beta, que lançou esta desconferência, conforme solicitava o MinC. Gostaria apenas de tentar responder uma questão muito importante levantada pelo Trevisan. Ele perguntou em seu post: “O que a liberaçãode freqüências hoje utilizadas pelas TVs - que só deve ocorrer totalmente daqui a uns 5 anos, se não mais - tem exatamente a ver com a diversidade cultural, neste momento?”Um dos maiores ataques à diversidade cultural é a concentração de canais de comunicação em poucas mãos. A defesa da diversidade passa porgarantir aos diversos produtores culturais os meios para disseminar suas expressões artísticas. Por isso, o tema da democratização do acesso aos meios de comunicação foi, é e será um elemento vital da luta pela diversidade cultural. Hoje, no Brasil existem centenas de produtores de radiodifusão comunitária que estão impedidos de utilizar o espectro radioelétrico. Ao transmitirem seus sinais são atacados pelo Estado. São chamados de piratas. Por que o Estado ataca os produtores de ondas independentes?Porque existe a pressão das empresas de radiodifusão para manter “a ordem do espectro”. Quem definiu esta ordem? Que ordem é esta? O Estado concedeu a algumas poucas empresas o direito de usar o espectro
radioelétrico para transmitir sua programação. Ao definir o espectro como algo limitado e escasso, o Estado assumiu o seu controle. Apesar de dizer que o espectro é um bem público, o Estado entregou seu controle e operação para empresas privadas. Isso permite que elas controlem as transmissões e concentrem as verbas de publicidade. A democratização das comunicações passa pela democratização do espectro radioelétrico. Acontece que a democratização das possibilidades de transmissão é visto pela indústria do entretenimento e das radiodifusão como ameaça ao seu modelo de negócios (baseados no broadcasting). Por que? A ampliação do número de produtores de programas, o aumento dos tipos de programação, a
diversidade de opções, levaria a dispersão das verbas de publicidade. A TV já sofre concorrência da Internet. Os dirigentes desses grupos de radiodifusão querem que a digitalização não gere nas velhas mídias o efeito internet.


Mas a TV não será digital? Este problema não irá acabar? Tudo não será como na Internet? Onde a descentralização e a globalização impedem qualquer controle?


Nas primeiras batalhas sobre como deverá ser a TV Digital brasileira os defensores da diversidade cultural sairam perdendo para os advogados dos modelos concentradores e limitadores. Por enquanto, a TV Digital será apenas uma TV com alta definição, com interatividade controlada e com um pouco mais de opções do que o programa Você Decide. Tudo indica que a interatividade da TV Digital será classista, pois para fazermos uploads teremos que usar o canal de retorno das operadoras de telefonia. Ele será gratuíto? “De grátis”? Certamente não. Então, aí se colocará novamente o peso do dinheiro, o peso da concentração de renda na
sociedade que gerará concentração de possibilidades de interação.

Muitos diriam: essa tentativa dos grupos de radiodifusão de conter a diversidade de canais e de produção está fadada ao fracasso, uma vez que a TV sobre IP, a webTV engolirá a TV Digital controlada e de baixa interatividade.

Certo. Existe aí esta grande possibilidade democratizante (diversidade exige democracia e liberdade de iniciativa). Então, prá que lutar pela democratização do espectro?


Prá que lutar pela democratização do espectro?


É importante esclarecer que quem controla a infra-estrutura de telecomunicação pode controlar os fluxos de informação. Veja a China. Não é por menos que o movimento “Não é por menos que o movimento "Save de Internet" está lutando contra as tentativas das empresas de telecom e de entretenimento poderem taxar e tratar diferenciadamente os pacotes de bits que trafegam em suas redes físicas. Todos sabemos que a Internet é baseada na troca de pacotes de dados baseados no democrático protocolo TCP/IP. Imagine se uma operadora de telefonia estiver autorizada a ler os cabeçalhos dos pacotes que levam as informações. Ela poderá bloquear a Voz sobre IP, os pacotes que levam dados usando o BitTorrent, aumentar a velocidade dos pacotes de mensagens das empresas aliadas, entre outras coisas discriminatórias. Alguém poderia dizer: mas eles não fariam isto... É mais já estão fazendo. O movimento Save The Internet defende a neutralidade na rede, ou seja, que os controladores da camada física da rede não possam interferir nas camadas lógicas. Dito de outra forma: a diversidade cultural no ciberespaço depende da palavra de ordem: "Todos os pacotes são iguais perante a rede!" Acho que o primeiro que articulou esta frase foi o Carlos Afonso, do Comitê Gestor da Internet no Brasil.

Então, aqueles que pensam que a garantia da liberdade na Internet dispensa a luta pela democratização da infra-estrutura, o que incluí o espectro radioelétrico, está cometendo um erro de avaliação.

Por isso, a luta pela diversidade digital também passa pela transformação do espectro eletromagnético em uma via comum, pública, em commons.

2 comentários:

Anônimo disse...

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2006/05/354430.shtml

breu disse...

> Uruguay, 6 de junio de 2007
> Diputados aprueban ley de radiodifusión comunitaria
>
>
> El martes 5 de junio de 2007, la Cámara de Representantes de Uruguay
> aprobó por amplia mayoría (49 votos en 59 presentes) un proyecto de ley
> que regula y reconoce la existencia de un tercer sector en la
> radiodifusión: la radio y TV comunitaria, que será ofrecido por
> asociaciones civiles sin fines de lucro.
>
> En la ley se destaca el reconocimiento que la radiodifusión es "un soporte
> técnico para el ejercicio, preexistente a cualquier intervención estatal,
> del derecho humano a la libertad de expresión y la libertad de
> información". El espectro radioeléctrico será considerado como "un
> patrimonio común de la humanidad sujeto a administración de los Estados y
> por tanto el uso equitativo a las frecuencias de toda la sociedad uruguaya
> constituye un principio general de su administración".
>
> Establece varios principios rectores para orientar democráticamente la
> administración de las frecuencias por parte del Estado como la "promoción
> de la pluralidad y diversidad" como un objetivo estratégico; la "no
> discriminación y garantías" para una "igualdad de oportunidades para el
> acceso" y la "transparencia y publicidad en los procedimientos y
> condiciones de otorgamiento".
>
> Los principios anteriores fueron votados por la unanimidad de los
> legisladores.
>
> El texto de la ley define a las radios y televisoras comunitarias como
> servicios "no estatales de interés público, prestado por asociaciones
> civiles sin fines de lucro" y orientado a "satisfacer las necesidades de
> comunicación social y habilitar el ejercicio del derecho a la información
> y libertad de expresión de los habitantes de la República".
>
> Expresamente señala que no existen limitaciones previas ni arbitrarias al
> ejercicio de la libertad de expresión por medios comunitarios, tales como
> potencia, cobertura territorial o de cantidad de emisoras por localidad.
> "En ningún caso se entenderá", dice, que este servicio "implica
> necesariamente un servicio de cobertura geográfica restringida, estando
> definido por su finalidad pública y social y no por el alcance de la
> emisión, el cual dependerá de la disponibilidad y planes de uso del
> espectro y la propuesta comunicacional de la emisora".
>
> La ley establece por primera vez en Uruguay el otorgamiento a frecuencias
> por concursos abiertos, transparentes, públicos y no discrecionales,
> previa audiencia pública, y establece, en consonancia con las
> recomendaciones de la OEA al respecto, una reserva de espectro para medios
> comunitarios y otros no comerciales.
>
> Siguiendo las buenas prácticas de las legislaciones de Colombia, Ecuador,
> Venezuela, Bolivia y Perú, no se confunde su caracter no lucrativo con la
> capacidad de obtener recursos económicos para su funcionamiento. Para
> asegurar su "derecho a asegurar su sustentabilidad económica,
> independencia y desarrollo", el texto aprobado por los diputados habilita
> a las emisoras comunitarias a "obtener recursos, entre otras fuentes, de
> donaciones, aportes solidarios, auspicios, patrocinios y publicidad
> incluso oficial, de la cual no serán discriminadas".
>
> Sin embargo, para dar transparencia al uso de dichos recursos y evitar que
> se desvirtúe el sentido no lucrativo de las emisoras, se exige que "la
> totalidad de los recursos" deberá ser "invertida en el funcionamiento y
> mejoras en la prestación del mismo y el desarrollo de los objetivos del
> Servicio de Radiodifusión Comunitaria". Estarán obligadas a realizar
> auditorías periódicas para su efectivo control.
>
> Otra innovación importante de la ley es la creación de un Consejo
> Honorario Consultivo, integrado por una mayoría de miembros de la Sociedad
> Civil y universidades públicas y privadas, junto a representantes del
> Estado, que observarán y participarán de todo el proceso de otorgamiento y
> renovación de las frecuencias.
>
> Aunque no es un órgano que tome decisiones, su creación aumenta los grados
> de transparencia y control ciudadano de la gestión del Estado en un tema
> tan sensible para la libertad de expresión, aspecto que ha estado en
> debate público en las últimas semanas en el continente americano.
>
> El proyecto inicial, ingresado al Parlamento en 2005 con el respaldo de la
> bancada de legisladores oficialistas, es una iniciativa elaborada por un
> importante grupo de instituciones y organizaciones sociales. La coalición
> está integrada por AMARC (Asociación Mundial de Radios Comunitarias), la
> asociación nacional de periodistas APU (Asociación de la Prensa Uruguaya),
> la Universidad de la República (pública), organizaciones de derechos
> humanos como IELSUR e ISODE, la Federación de Cooperativas de Vivienda por
> Ayuda Mutua (FUCVAM) y la central de trabajadores del país (PIT-CNT).
>
> El proyecto fue aprobado luego de casi un año y medio de discusiones en la
> Cámara, donde fueron escuchados todos los actores involucrados, y a pesar
> de las fuertes presiones de los gremios de empresarios de la
> radiodifusión. Sus esfuerzos estuvieron dirigidos a restringir la libertad
> de expresión de las organizaciones sociales exigiendo a los diputados que
> establecieran limitaciones previas y arbitrarias en la cobertura de las
> emisoras, no permitir su acceso a la TV y la prohibición de contar con
> recursos económicos para funcionar y ser medios independientes.
>
> (ver texto aprobado completo en:
> http://legislaciones.amarc.org/URU_Proyecto_Ley_Radiodifusion_Comunitaria_05062007.pdf