21 de mai. de 2007

Diversidade: tolerância, respeito e valorização

Por Edgard Piccino

Quando falamos em diversidade muito se fala sobre tolerância. Seria este o melhor foco para a discussão?
É inegável que a tolerância já é um passo em relação à intolerância, pois ao menos concede o direito de existência ao outro. O respeito à diversidade já parece ser um outro passo adiante, pois significa não somente tolerar, mas respeitar, garantir o direito à alteridade. Em tempos de globalização o respeito à diversidade é uma forma de afirmar a identidade de grupos frente a massificação imposta pelo mercado, frente a padronização dos comportamentos através do consumo.
Mas as grandes empresas já utilizam este motivo nas suas campanhas de marketing, vide a atual campanha da Coca-Cola, que por linhas tortas sugere: "seja diferente, mas consuma Coca-Cola". Sugere que a diversidade é uma realidade da nossa sociedade, e que o consumo do seu produto unifica a humanidade, aplainando as diferenças. Nesta linha o consumo unificaria a humanidade em um ambiente de respeito à diversidade.
Mas a valorização da diversidade não seria ainda um passo mais adiante? Valorizar a diversidade é reconhecer a alteridade de maneira mais plena, mais ampla, pois além de garantir o direito à existência do outro, seria ver a si mesmo no outro, com todas as diferenças e contradições. Seria
praticar a contra-hegemonia cotidianamente, valorizar as vozes dissonantes, que contestam o consumo, o mercado global e o pensamento único.
Valorizar a diversidade é afirmar a identidade destoante, afirmar a autonomia, e ao mesmo tempo propor alternativas à massificação, à pasteurização e à antissepsia cultural. Mas esta prática não é simples, não é trivial, muito menos automática. Para pensar sobre esta não-trivialidade, podemos evocar a seguinte situação: os grupos que optam por negar as outras formas de cultura também não deveriam ser valorizados? Não seria esta uma forma, mesmo que búdica, de valorizar a diversidade? Não deveríamos então tolerar, respeitar e valorizar o
intolerante?

*Fetiche da diversidade: o culto ao exótico.*

Em um futuro não muito distante, em um país imaginário, poderíamos imaginar a seguinte cena: um helicóptero sobrevoando tribos e comunidades isoladas, com um guia turístico informando os visitantes sobre as peculiaridades culturais de cada tribo, sobre os costumes, etnias e línguas, e dando avisos do tipo "por favor, não joguem objetos, alimentos ou roupas, para não influenciarmos perniciosamente seus hábitos e costumes..."
A valorização da diversidade não pode se transformar em fetiche, em culto ao exotismo, em "isolamento cultural" para evitar a contaminação. A diversidade só tem sentido na troca, no compartilhamento cultural, e não na "preservação" da diferença como peça de museu, ou pior, como vitrine para consumo turístico e cultural.

Incorporar a diversidade é contaminar e ser contaminado pelas outras culturas, outras cosmogonias, outras ideologias, outras religiões, outros costumes. O hábito da mestiçagem, da troca, do contrabando cultural está na raiz da diversidade. Só há sentido diversidade trocadora, mestiça, impura, contaminada e contaminante. Ou será que existe sentido na diversidade "pura", intocada, sem mistura, pois esta seria a garantia da "matriz cultural", da "cultura de raiz"? Isso não seria o fetiche da diversidade, o culto do exótico?

O capitalismo tem a imensa habilidade de transformar tudo em consumo, inclusive o distante, o diferente, o exótico, o intocado. Queremos promover qual diversidade? A diversidade para o consumo do exótico, ou a diversidade para o compartilhamento, para a troca?

4 comentários:

Unknown disse...

Vejo o conceito de diversidade cultural abrangendo as duas coisas, a raiz e o remix. Há contradição em se valorizar todo o espectro da manifestação cultural?

leogermani disse...

Na escola me ensinaram, e ainda devem ensinar, que "todos são iguais". Acho que esse é um grande equívoco.

As pessoas são diferentes. E isso deveria ser colocado, aceitado e celebrado desde o início de nossas vidas.

..

Sobre a diversidade cultural que o Murilo coloca, temos que ficar espertos pra não colocarmos a raíz, como algo tradicional e temporalmente mais antigo, e o uso das tecnologias como atual.

A rabeca e o computador são contemporâneos. Mestre Salustiano é contemporâneo do Kraftwerk

Anônimo disse...

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